A politização do caso Wesley fez o governador Rui Costa, já na segunda-feira (29) pela manhã, reunir de forma emergencial, como há muito não fazia, senadores e dirigentes partidários da base governista. A reunião, que aconteceu em ambiente virtual, contou com a presença do vice-governador João Leal, dirigente estadual do PP, dos senadores Jaques Wagner (PT) e Otto Alencar, que preside o PSD na Bahia; o presidente do Podemos, deputado federal Bacelar; o presidente do PCdoB, Davidson Magalhães e o presidente do PDT, deputado federal Félix Mendonça Jr.
O clima da reunião foi também de muita tensão. O receio geral, sobretudo do governador Rui Costa, era a de que a apropriação política do caso gerasse alguma mobilização extrema na Bahia. “Preocupados com o bolsonarismo, com a possibilidade de encaminhar desestabilização do governo aqui”, contou uma fonte sob condição de anonimato. Não há confirmação se outras representações partidárias foram convocadas.
Das preocupações que rondavam Rui Costa naquela segunda-feira - além dos números da pandemia no estado, que findava o pior mês após o registro do primeiro caso um ano antes - a mais pujante era a deputada federal Bia Kicis (PSL-DF). Na madrugada daquela segunda, a presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados fez circular mensagem “incentivando” um motim de policiais militares contra o governador.
“Soldado da PM da Bahia abatido por seus companheiros. Morreu porque se recusou a aprender trabalhadores. Disse não às ordens ilegais do governador Rui Costa da Bahia. Esse soldado é um herói. Agora, a PM da Bahia parou. Chega de cumprir ordem ilegal”, escreveu Kicis no Twitter. A mensagem foi apagada logo pela manhã. E então postou: “As redes ficaram emocionadas com a morte do soldado. Mas refletindo melhor prefiro aguardar os rumos da investigação”.
Na mesma segunda-feira em que o governador dialogava com dirigentes políticos locais, outro grupo se reunia no Farol da Barra para protestar contra a morte do PM. Um homem chegou a encenar a morte de Wesley. Vestido de preto, usava ainda colete, coturno e sustentava uma arma nas mãos. Refez o movimento do PM morte, de pintar o rosto de verde e amarelo, e ficou deitado no Chão ao lado das bandeiras do Brasil e da Bahia.
No final da tarde do dia 29 de março, o governador utilizou as redes sociais para lamentar a morte do policial. “Quero lamentar profundamente o fato ocorrido neste domingo e ao mesmo tempo manifestar meus sentimentos à família do policial envolvido. Também quero estender minha solidariedade a todos os policiais que participaram da operação e colocaram suas vidas em risco”.
Lembrando o caso
O soldado da Polícia Militar, identificado como Wesley Soares Góes, em estado de aparente surto, fardado e com o rosto pintado de verde amarelo, dentro de um veículo Renault Duster marrom, invadiu a barreira de proteção e fez disparos para o alto. Dali em diante, foram cerca de 3h30 de negociações, sem efetivo sucesso. O PM disparou contra os colegas com um fuzil e em seguida foi atingido. Socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), Wesley, ainda com vida, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA), foi encaminhado para o Hospital Geral do Estado (HGE), onde foi a óbito.
A tragédia se misturou, então, a uma série de ataques diretos ao governador Rui Costa (PT). Em uma rápida leitura do caso, o “tribunal” dos grupos extremistas culparam as políticas de distanciamento social, adotadas pela gestão estadual para conter a pandemia da Covid-19, como a causa primeira. O PM em surto foi tomado como "herói" por grupos bolsonaristas. A situação ganhou destaque nacional. Wesley era lotado em um batalhão da Polícia Militar em Itacaré, no litoral sul da Bahia, a 250km da capital. No domingo, ele se deslocou para Salvador conduzindo o próprio veículo, até chegar ao Farol da Barra e realizar o ato.
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Roni Figueiredo - Coluna Social